Destaque

A LITTLE INITIAL IDEA

Em um momento de vida kung fu com meu Si Fu (Mestre Thiago Pereira), ele falava da vida, de acontecimentos da vida, e usou o Siu Nim Tau, para que eu entendesse. Ao que eu absorvi que tudo está conectado, porém precisamos saber fazer as conexões, e precisamos entender as partes para ligar umas as outras, formando o todo.

In a moment of kung fu life with my Si Fu (Master Thiago Pereira), he was talking about life, about life’s events, and used the Siu Nim Tau, so that I could understand. When I got that everything is connected, but we must know how to make the connections, and we have to understand the pointss to connect to each other, forming the whole.

 

 

No mesmo dia após essa conversa, foi o dia que mais pratiquei e refinei meu Siu Nim Tau. Me foquei em cada parte, e em cada conexão até concluí-lo. E me recordei de quando ele me disse também sobre estar presente em tudo o que se faz. E que o Siu Nim Tau nos transmite isso.  Senti isso durante toda minha prática, se meu pensamento se desconectasse dali, já não fluía mais. A sequência se perdia e para se conectar novamente, teria de recomeçar, não teria como dar sequência a algo que se perdeu.

The same day after this conversation, it was the day I practiced and refined my Siu Nim Tau the most. I focused on each part, and every connection until I finished it. And I remembered when he also told me about being present in everything that is done. And Siu Nim Tau tells us that. I felt this through all my practice. If my mind disconnected from there, it wouldn’t flow anymore. The sequence was lost, and to connect again I would have to start over, there would be no way to follow up on something that was totally lost.

SiuNimTau-SiGungCerta vez Si Fu disse que Si Gung (Mestre Sênior Julio Camacho) e Si Taai Gung (Grão Mestre Leo Imamura) passaram horas fazendo o Siu Nim Tau. Fiquei me perguntando porque ficar horas seguidas imerso em seu próprio Siu Nim Tau. Confesso que ainda busco respostas para isso que me foi muito curioso. Mas tentando entender me vieram algumas possibilidades (uma pequena ideia inicial):

  1.  Praticar por um longo tempo ajuda a encontrar o equilíbrio, seu centro e a focar
  2. Ajuda a tentar encontrar respostas
  3. Manter-se equilibrado diante das situações da vida

 

Si Fu once said that Si Gung (Senior Master Julio Camacho) and Si Taai Gung (Grand Master Leo Imamura) spent hours doing the Siu Nim Tau. I was wondering why staying immersed in your own Siu Nim Tau for hours long. I confess that I still seek answers to this. I was very curious. But trying to understand came a few possibilities (a little initial idea). Practicing for a long time helps:

1. To find balance, center and focus;

2. To find answers;

3. To keep balanced with life situations.

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Conforme pensava no porque, e em suas respostas, me veio uma outra pergunta, porque tanto tempo? horas seguidas? Ainda não consegui uma resposta para isso, mas imagino que não exista uma meta, nem tão pouco um record. Mas sim uma relação direta com seu próprio Siu Nim Tau. Como se o Siu Nim Tau e a pessoa que está fazendo se tornassem uma só energia, como se ele dissesse que as respostas estão dentro de você mesmo e que basta se conectar consigo. Como se ele (o Siu Nim Tau) dissesse: eu sou você, conecte-se comigo.

As I thought of why, and in their answers, another question came to me, why so long? I have not gotten an answer yet, but I imagine there is no goal, not even a record. But a direct relationship with his own Siu Nim Tau. As if the Siu Nim Tau and the person that is doing become only one energy, like he said that the answers are within yourself and that you are just connecting with yourself. As if he (the Siu Nim Tau) said: “I am you, connect with me”.

Não sei se vou encontrar todas as respostas, mas pelo menos vou conseguir me conectar mais comigo e com o outro. E vou me preocupar mais com as perguntas.

I don’t know if I’m going to find all the answers, but at least I’ll be able to connect more with myself and the other. And I’ll be more concerned with the questions.

Como disse Si Taai Gung ao ser perguntado se houve algo que gostaria de ter perguntado, de ter dito ao Patriarca Moy Yat e que o tempo não lhe permitiu:

“O que eu tenho acho que é vontade de deixar de ter perguntado tanta besteira pra ele. Acho que talvez essa tenha sido minha vontade. Porque uma das coisas muito interessantes da forma de Grão Mestre Moy Yat transmitir o Ving Tsun para nós, é de nós sabermos buscar nossas próprias perguntas, e muitas vezes eu perdi grandes oportunidades de aprofundar determinadas questões por perguntar coisas desnecessárias”

As Si Taai Gung, when asked if there was something he would have asked, if he had told Patriarch Moy Yat and that time did not allow him, he said:

“What I have, I think, is the desire that stop asking him so much bullshit. I think maybe that was my wish. Because one of the very interesting things about Grand Master Moy Yat’s way of conveying the Ving Tsun to us was that we were able to seek our own questions, and I have often missed great opportunities to deepen certain questions by asking unnecessary things”.

 

Mas o que significa Siu Nim Tau (小念頭)

Todos traduzimos (Nim Tau 念頭) como “idéia do início”,mas ” Nim tau 念頭”quando traduzido como expressão única, significa “Intenção”. Assim, a brincadeira no filme, é que Fung Wah diz que Leung Jaan pede que os alunos tenham uma “Pequena Intenção”(Siu Nim Tau 小念頭) onde “pequena” é representada por este ideograma (小).

fonte: InsideVingTsun.com
 http://www.insidevingtsun.com/2012/03/si-fu-talks-deeply-about-siu-nim-tau-at.html

But what does Siu Nim Tau (小念頭) mean?

We translate (Nim Tau 念頭) as “idea of the beginning”, but “Nim tau 念頭”, when translated as single expression, means “Intention”. So the joke in the film is that Fung Wah says that Leung Jaan asks the students to have a “Little Intention” (Siu Nim Tau 小念頭), where “small” is represented by this ideogram (小).

Source: InsideVingTsun.com
http://www.insidevingtsun.com/2012/03/si-fu-talks-deeply-about-siu-nim-tau-at.html

…o fato do Siu Nim Tau vir primeiro, não é por acaso. Entre outras questões práticas, você só começa a apreciar o Ving Tsun de fato, quando suas “intenções” com a arte diminuem, e você simplesmente a vivencia.

fonte: InsideVingTsun.com
http://www.insidevingtsun.com/2012/03/si-fu-talks-deeply-about-siu-nim-tau-at.html

… the fact that Siu Nim Tau comes first, is not by accident. Among other practical issues, you only begin to really appreciate the Ving Tsun when your “intentions” with art diminish, and you simply experience it.

Source: InsideVingTsun.com
http://www.insidevingtsun.com/2012/03/si-fu-talks-deeply-about-siu-nim-tau-at.html

Parece que aos poucos essa intenção vai diminuindo e a preocupação com as técnicas em primeiro lugar também. Refinar o próprio Siu Nim Tau é o caminho.

It seems that gradually this intention is decreasing and the concern with techniques in the first place as well. Refining his own Siu Nim Tau is the way.

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To Dai of Master Thiago Pereira
Christiana Chagas

Moy Fat Lei Family

 

 

(Traduzido por: Tatiana Jardim)

White Envelope | Envelope Branco

Dia 08 de junho estive com Si Fu, conversamos muito, falamos sobre a sala nova, estratégias de marketing, planejamentos, e sobre a vida, ambos perdemos a hora, eu ainda tinha outro compromisso, ele preferiu votar só, pois também tinha suas coisas para resolver no seu trajeto.

Já estava na cama com meu filho quando umas dez e meia da noite aproximadamente, recebo a notícia do falecimento do pai de meu Si Fu.

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Homenagem – Quadro que Si Fu colocou no velório de seu pai

Foi realmente um susto, na hora não sabia o que pensar, queria falar com Si Fu, saber se ele estava bem, se estava precisando de alguma coisa. E mesmo nesse momento difícil, tendo acabado de receber praticamente a notícia, entrou em contato com Si Hing, e lhe deu todas as instruções para que mantivéssemos as atividades do núcleo.

Foi aí, que todo meu processo de Vida Kung Fu se iniciou.

Fiquei a princípio preocupada, depois tensa, pois iriam pessoas conhecer o núcleo e fazer a aula grátis, e a responsabilidade de cuidar de tudo, mesmo estando segura que Si Hing Vitor estaria comigo, era grande.

Vi uma mensagem de Si Gung (Mestre Sênior Júlio Camaho) comunicando todo o Clã Moy Jo Lei Ou do falecimento e que Si Fu havia compartilhado uma mensagem nas suas redes sociais, uma nota de falecimento e informe do velório. De pronto, passei a informação para a Família Moy Fat Lei. E daí fomos combinando entre nós como todos iriam ao velório. Só de ver a notícia se espalhando formando uma rede de apoio, pude sentir a força que a família kung fu e o clã todo tem, de união.

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Tive que explicar a João que o pai de Si Fu faleceu, e que iriamos ao velório dar um abraço e apoia-lo, e que ele já foi no enterro da bisa e sabe como é, e como se comportar. Ao que ele virou-se e disse:

Eu sei mãe, eu vou dizer: Meus sentimentos Si Fu. Ou Também posso dizer assim né mãe: Sinto muito Si Fu

Depois das práticas no núcleo, fomos nos mobilizando para irmos para o velório. Peguei Si Hing Matheus no caminho e fomos conversando, e com ele pude saber da tradição chinesa no velório em usar branco, sem teorizar sobre o porque. E de fato Si Fu estava de camisa e tênis brancos, não por acaso, imagino.

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Chegando lá Si Hing Vitor já havia chegado, dei um forte abraço em Si Fu que estava com boa aparência apesar do momento. Si Suk Gung Úrsula e Si Suk Gung Felipe Soares já se encontravam, aos poucos foram chegando membros da Família Moy Jo Lei Ou e irmãos Kung Fu, Si Hing Adilson com Si Je Geovana, Si Hing Mrkus, Si Hing Filipe e Si Je Jaqueline, depois chegou Si Gung (Mestre Sênior Julio Camacho).

Si Hing Vitor me informou que havia preparado um envelope (tradicional) branco para entregar em nome da Família Moy Fat Lei e que Si Gung havia conversado com ele sobre isso, orientando que anexaria a um envelope do Clã Moy Jo Lei Ou.

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Fotografia de maio de 2005 – Si Fu entregando um Hung Baau para Si Taai Gung – Cerimônia chamada na época de “Conclusão do Nível Mui Fa Jong”

Hoje (18.06 – dando continuidade a esse artigo) Si Fu falou sobre o Hung Baau. Ele já havia falado sobre ele comigo outras vezes, mas hoje parecia adivinhar, e complementou com o envelope branco. O que acontece é que na tradição chinesa entregam um Hung Baau (Envelope vermelho) em ano novo, cerimônias ou em algum agradecimento, que demonstre o reconhecimento de alguém por outro alguém. E porque a cor do envelope é vermelha? O vermelho é uma cor auspiciosa por estar associado ao nascimento, como a cor das crianças ao nascerem. E porque no caso de falecimento a cor é branca? Pois representa a palidez de alguém quando falece. Então, num velório entrega-se um envelope branco – chamado Baak Baau –  sem nada escrito.

Desde a notícia ter sido passada, percebi o envolvimento direto de Si Gung, e cada vez mais admiro a relação de meu Si Fu com Si Gung. Sempre observo o carinho e respeito que um mantém pelo outro, e o cuidado que meu Si Fu, tem com o seu.

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Si Gung (Mestre Sênior Júlio Camaho) Abraça Si Fu no velório de seu pai

Um discípulo segue seu Mestre, e tem um zelo muito grande por ele, e isso sem dúvida meu Si Fu tem, uma gratidão, respeito e um zelo muito grandes. Mas especialmente nesse dia, pude notar o cuidado do Mestre com seu Discípulo. Pude registrar um momento que revela essa conexão, ao fotografar um ao lado do outro depois do caixão ter sido enterrado.

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E pude notar como o mestre é o alicerce de uma família Kung Fu observando que, ao lado de Si Fu e meus irmãos Kung Fu, ficamos todos juntos a todo momento. O momento em que Si Gung se aproximou de meu Si Fu, e os dois com o mesmo olhar pensativo, que mostrava que nada precisava ser dito, bastava a presença.

E ao final, quando Si Gung pediu a foto oficial, foto que marcou um momento especial, um momento de perda, sim, mas de união.

 

 

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E a frase que marcou esse dia para mim foi:

“Isso aqui é família Kung Fu, aqui ninguém cai sozinho.” – Si Hing Filipe

Ao final todos nos despedimos de Si Fu, e organizamos os carros para voltar, e além de Si Hing Matheus voltar comigo e João, Si Suk Fábio também voltou e fomos todos brincando de adedanha no caminho. E pensei: que bom essa leveza, essa inocência infantil. Ele não tem noção, mas quando estiver maior vai ter essa recordação, de que esteve lá com Si Fu nesse momento, de que fez parte dessa união, dessa família, desse clã.

 

Sigamos Juntos Si Fu.

Das vantagens e desvantagens

 

É  comum ouvirmos que nós mulheres, já temos ‘vantagem’ no Ving Tsun por ter sido criado por uma mulher, para uma estrutura corporal feminina.

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Praticantes do Clã Moy Jo Lei Ou – Família Moy Jo Lei Ou e Família Moy Fat Lei. Da esquerda para a direita: Caroline Archanjo, Rubia Souza, Márcia Moura, Christiana Chagas e Juliana Trugano. Cerimônia de entrada de novos membros à Família Moy Fat Lei.

 

Que homens, principalmente os grandes, estariam em desvantagem. E que além disso tendem a ter uma postura mais impositiva, valendo-se da força.

Sendo o Ving Tsun conhecido justamente por usar a energia do outro a seu favor,  sem o uso de força exatamente,  mas tendo uma visão focada e estratégica, para solucionar de uma vez à situação, não se trata de se traduzir em mais uma guerra de sexos, muito pelo contrário.

Quando se enxerga pelo prisma do Yin Yang – duas energias opostas que se completam,  fica mais fácil entender que não é uma questão de gênero.  Mas que podemos, todos, termos qualidades mais masculinas ou femininas.

A figura de referência para representar estes dois princípios é a montanha. O lado norte, coberto pela sombra, é o yin, que em chinês quer dizer sombreamento e corresponde à dimensão Terra. Ele se expressa pelas qualidades da anima, do feminino nos homens e nas mulheres: o cuidado, a ternura, a acolhida, a cooperação, a intuição e a sensibilidade pelos mistérios da vida.  

O yang significa a luminosidade do lado sul e corresponde à dimensão Céu. Ele ganha corpo no animus, as qualidades masculinas no homem e na mulher como o trabalho, a competição, o uso da força, a objetivação do mundo, a análise e a racionalidade discursiva e técnica.

A sabedoria milenar do Taoísmo ensina que estas duas forças devem ser balanceadas para que o caminhar das coisas se faça de forma, a um tempo, dinâmica e harmônica. Pode ocorrer que uma predomine sobre a outra, mas importa buscar,  o tempo todo, o equilíbrio difícil entre elas. 

fonte: Yin e Yang: o equilíbrio do movimento

É natural que durante as práticas meu Si Fu não faça distinção de gênero, e nos faça perceber que o desafio de refinar seu próprio Kung Fu, é próprio do praticante, que ‘não tem sexo’.

Meu Si Taai Gung – Grão Mestre Leo Imamura, fala sobre a conduta feminina no conceito de Feminilização da Guerra, que seria justamente uma conduta estratégica baseada numa conduta feminina.

“A conduta feminina, em primeiro lugar não tem a ver com o sexo, não quer dizer que a mulher tem uma conduta feminina necessariamente. A conduta feminina ela tem um compromisso com a eficácia. Por isso que ela foi uma evolução natural desse processo, eu digo processo por que o chinês ele pensa a realidade não em termos de um acontecimento. O Chinês pensa realidade em termos de um processo, um processo de alternância complementar. Aquilo que muitas pessoas muitas vezes já ouviram falar mas vale a pena a gente esclarecer um pouquinho mais, que é a relação do Yin e Yang.”

Grão Mestre Léo Imamura – Feminilização da Guerra

 

 

Primeiro Dia Siu Nim Tao

Certa vez Si Fu disse que eu estava tendo uma conduta masculina. Pois eu avançava e usava força, quando eu poderia simplesmente aproveitar a energia do outro a meu favor, sem necessariamente usar de força mas sim aproveitando e utilizando a meu favor de forma estratégica.

Diante dessa reflexão sobre a conduta feminina e da história do Ving Tsun, percebe-se que o desafio, independentemente de gêneros, é único, pessoal, subjetivo e intransferível no sentido de se perceber, identificar e refinar seu próprio Kung Fu.

 

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E interessante pois Si Fu já me deu exemplos de mulheres no Ving Tsun, que tem uma conduta mais masculina, bem como de homens que possuem uma conduta feminina mais marcante. Nesse sentido pode-se perceber que é uma questão de equilíbrio, de identificação e de ocupar o centro.

 

 

Estudar melhor o conceito de Feminilização da Guerra, a conduta feminina e estratégica, é de fundamental importância para entender a raiz de nossa Arte Marcial, tendo sido fundada por uma mulher, e desmistificar a ideia de gêneros, trazendo essa perspectiva da conduta feminina ou estratégica.

It all started with two women. One of them was Ng Mui. She was a nun who escaped the Shaolin Temple before it was destroyed. She developed the martial art as a way of self-defense that “transcend size, weight and gender.” The movements were inspired by a stork that used its wings to attack a rodent and defend itself at the same time.

The second woman was Ng’s student and the martial art’s namesake, Yim Wing Chun. She was a beautiful young woman who was routinely pressured by the town bully. Tired of his rude marriage proposals, Wing Chun learned self defense and became one of Ng’s best students.

It’s a story of two tough female protagonists and the obstacles that sparked the warrior in them

fonte: http://jmsc.hku.hk/jmsc6110/kung-fu/

Respeito a Genealogia – Uma questão cultural?

Um dos temas marcantes dentro do Mo Lam é a questão do respeito a Genealogia.

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Si Fu (Mestre Thiago Pereira) e Si Gung (Mestre Sênior Júlio Camaho) e Meus Si Hing Vitor Sá e Keith Markus e Si Je Jaqueline Tergolina, na cerimônia de discipulado

Uma Família Kung Fu, pegando por exemplo a Família a qual pertenço, a Família Moy Fat Lei faz parte de um Clã, o Clã Moy Jo Lei Ou, que faz parte do Grande Clã – o Clã Moy Yat Sang.

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Família Moy Fat Lei recebe Si Gun – Mestre Sênior Júlio Camacho e convidados para primeira aula do ano no núcleo Méier

Cada Família tem seu Si Fu, que tem seus To Dai e seus Discípulos (aqueles que já são membros vitalícios). Eu sou To Dai do Mestre Thiago Pereira, que é discípulo de meu Si Gun (Seu Si Fu) Júlio Camacho que é discípulo de meu Si Tai Gung (Grão mestre Léo Imamura). E quando entrei para a família passei a ter irmãos Kung Fu. Porém, o que se torna difícil compreender, é que quando se entra para família muitas vezes seu irmão ou irmã mais velhos são, na verdade, mais jovens que você (quando é um irmão ou irmã mais velhos não se tem essa dificuldade). Porque o o que acontece é o seguinte, na cultura clássica chinesa, existe um respeito muito grande à essa árvore genealógica, o respeito aos pais, aos avós, o irmão mais velho. Não que não exista esse respeito em nossa cultura. Porém, isso fica bem claro na cultura clássica chinesa, assim como no Ving Tsun.

Irmão mais velho no Ving Tsun chama-se Si Hing, já irmã mais velha Si Je. Ok, pensa-se que a dificuldade é no nome, em guardar os nomes na memória. Mas não é só isso. Quando seu irmão mais velho é um garoto de dezesseis, dezessete anos, que você tenderia a chamá-lo pelo nome, por exemplo, porém é lembrada a todo instante desse respeito a genealogia, começando pelo tratamento, e pelo respeito as relações familiares, preservando cada uma.

Da mesma forma se não houver o cuidado, você escuta rapazes dentro da família te chamando de ‘Tia’. E aí entra num campo que já não é só da preservação da relação, mas no campo do seu crescimento e dessa pessoa dentro no círculo marcial e também na vida, pois essa atenção cuidadosa até mesmo no que se refere a genealogia dentro do Mo Lam, se reflete na vida. E já dizia patriarca Moy Yat:

Se lhe perguntarem o que é Kung Fu, a resposta é: Kung Fu é vida.
Se lhe perguntarem em seguida o que é a vida: vida é tudo

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Si Tai Gung (Grão Mestre Léo Imamura e Si Gung  (Mestre Sênior Júlio camaho) com Patriara Moy Yat

E nesse círculo marcial todos passam por essas dificuldades com essas nomenclaturas familiares como:

  • Si Fu: Mestre (seu mestre) – Ex: Thiago Pereira, meu Si Fu
  • Si Hing: Irmão mais velho – Ex: Vitor Sá, meu Si Hing
  • Si Je: Irmã mais velha – Ex: Jaqueline Tergolina, minha Si Je
  • Si Suk: Tio, irmão mais novo que Si Fu – Ex: Rodrigo Moreira, meu Si Suk
  • Si Suk Gung: Si Suk de meu Si Fu (tio avô), que é Si Fu – Ex: Mestra Úrsula Lima, minha Si Suk Gung
  • Si Gung: avô, Si Fu do Si Fu – Ex: Mestre Sênior Júlio Camacho, meu Si Gung
  • Si Tai Gung: Tio avô, Si Gung do Si Fu – Ex: Grão Mestre Léo Imamura, meu Si Taai Gung.
  • Si Baak: Tio Kung Fu, mais velho que Si Fu – Ex Leo Reis, meu Si Baak.
  • Si Baak Gung, Tio Kung Fu mais velho que Si Fu, também Si Fu – Ex: Nataniel Rosa, meu Si Baak Gung
  • Si Tai Baak Gung, Si Baak Gung de Si Fu – Ex: Pete Pajil, meu Si Baak Gung

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Em minha primeira viagem a São Paulo para a Casa dos Discípulos tive essa dificuldade, a preocupação em trocar os nomes, eram muitas pessoas, novas para mim, em situações de vida kung fu, onde você tem que estar atento e com essa preocupação com esses níveis de relação.

Mais uma vez citando meu Si Tai Gung – Grão Mestre Léo Imamura, não se trata de gostar mais de outra cultura em detrimento da sua. Mas de aproveitar um outro olhar, através de uma outra cultura, para olhar para a sua, de maneira mais analítica, atenciosa, cuidadosa e crítica.

E a partir desta observação que vem meu questionamento sobre ser ou não uma questão cultural. Bom, acredito que essa seja uma questão existente em ambas. O que me parece fundamental é a questão de se manter e de se resguardar esse respeito e atenção cuidadosa com a genealogia. Que a cultura clássica chinesa parece fazer a contento. O que difere muito nas culturas ocidental e oriental é que determinados comportamentos para nós ocidentais soa como frieza emocional, ao passo que observo, principalmente através dessa visão do Ving Tsun e de Vida Kung Fu, que para eles é muito mais uma questão de inteligência emocional.

Independentemente disso, reforçar esse sentimento de respeito para com os mais velhos me soa muito coerente.

Certa vez uma amiga me contou que ela e sua mãe, parecem duas estranhas dentro de casa. E falou da dificuldade em lidar com a mãe, uma pessoa difícil, principalmente agora, na velhice. Então lhe disse: Amiga, ela está velhinha, não se prenda a essas questões do dia a dia, se ela não leva a roupa suja pro lugar, leva pra ela, se ela não fala com você, fale você com ela, se ela é ‘cabeça dura’, não seja também. O tempo passa, e quando ela não estiver mais aqui, vai dizer que tinha muito pra dizer para ela e não disse (Lembrando sempre que ela é a mãe, e você a filha).

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E no Ving Tsun, podemos refletir sobre isso, nos momentos de vida Kung Fu, bem como durante as práticas. Nos tornando mais humildes, tendo uma outra percepção do tempo, não só com o relógio da vida como um todo, mas como o das experiências vividas, que são muitas, são diferentes, únicas, subjetivas, e independem de idade.

E por isso manter esses posicionamentos familiares na vida também é muito importante, pois pai é pai, mãe é mãe, filho mais velho é mais velho e mais novo é mais novo. Muitas vezes o mais velho ‘errou’ mais, não aproveitou o tempo como ‘ditam as regras’ ou no tempo esperado, e nem por isso o mais novo deve tratá-lo como mais novo, deve tratá-lo como o mais velho, independente das experiências de vida de cada um. Nem o filho tratar os pais como bebezinhos na velhice.

Mas para manter essa cultura e tradição é preciso respeito, humildade e posicionamento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Dia das mães e a importância das referências para o praticante de Kung Fu

É interessante, pois assim como na vida, dentro do Mo Lam (círculo marcial) temos muitas referências. Assim como na vida, essas referências vem da família e de fora dela, e são referências para cada pedacinho do que nos compõe.

Tenho uma grande referência que é meu Si Fu. Ele é minha maior referência dentro do cenário do Ving Tsun, por diversos motivos. Além dele garantir toda minha formação e construção nesse cenário, me fornecendo todas as bases, práticas e teóricas, é ele também que me apresenta outras referências da nossa história, de toda genealogia.

2007-03-10-2bxvii2bctfmjlo2b185Um exemplo disso é que, durante algumas de nossas conversas, sabendo de todo contexto de minha vida, mencionou minha Si Suk Gung – Mestra Úrsula Lima – Sua Si SukGaai Siu Yan.

 

 

 

 

 

 

img_0037bE aproveitando a data de hoje, dia das mães, faço uma homenagem a ela, que apesar do pouco contato que tive, tenho uma admiração muito grande por sua trajetória como mulher, mãe e como praticante de Kung Fu.

 

 

 

 

 

 

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Si Fu, por eu ser mulher, mãe (solteira), e praticante de Kung Fu, sempre me me fez referência, a ela que foi a primeira mulher a se tornar mestre de Ving Tsun.

 

 

 

 

 

 

Chris quando a gente for a Copacabana você vai ter a oportunidade de conversar com a sua Si Suk Gung Úrsula, acho que ela é uma grande referência pra você, pois, além de ser mãe, ela foi a primeira mulher a se tornar uma Si Fu.

 

De fato ela se tornou uma grande referência pra mim em função de tudo que meu Si Fu me passa. Enquanto mulher penso como ela deve ter tido que proteger sua linha central e se posicionar ocupando seu espaço dentro do Mo Lam, até chegar onde está.

 

Como mãe praticante de Ving Tsun, penso como deve ter sido, e como é na verdade ainda, conciliar o papel de mãe com o, de hoje, líder de família.  Afinal, ser mãe ocupa muito nosso tempo.

E sei que muitas vezes como praticante de Kung Fu, precisamos abrir mão de alguns momentos, em família, com nossos filhos, ou com vida social.

Estou só começando minha trajetória e vejo que não é fácil, ter que conciliar um trabalho, com sua vida Kung Fu, e a maternidade. Meu Si Fu costuma dizer que vivo no Biu Je. Já acordei seis da manhã entrei numa reunião online, ao mesmo tempo que preparava a lancheira do meu filho e saía para levá-lo a escola. Trabalhava a manhã toda, parava para pegar filho na escola, dar almoço, trabalhar a tarde toda e a noite ia ao Mo Gun, muitas vezes levando marmita para ele não Jantar tarde só em casa.

E quem quer seguir carreira não é muito compreendido pelos que o cercam. Pois além de não entenderem muito bem essa relação tão próxima com seu mestre, chamada de relação Si Fu To Dai e o círculo marcial, não entendem algumas escolhas e prioridades.

E tendo minha Si Suk Gung como referência as coisas ficam um pouco mais claras, fica mais leve. Si Fu disse várias vezes o quanto foi preciso que ela abrisse mão de momentos pessoais em sua trajetória.

Então, por isso tudo, é muito bom, e dá uma motivação muito grande ter uma presença feminina tão forte e marcante dentro do nosso círculo marcial.

Nunca tive a oportunidade de dizer isso a ela, mas fica aqui meu registro de uma inspiração muito forte para mim, e uma motivação para seguir sempre em frente.

 

E sigamos juntos!

Mudanças

Logo assim que iniciei no Ving Tsun, percebi, além da cultura da atenção cuidadosa, que diz respeito ao cuidado, atenção, zelo e respeito, não só com seu Si Fu, mas com toda a Família Kung Fu, Clã e na vida como um todo; mas também uma cultura de fazer acontecer e de “botar a mão na massa” como dizem no popular. Ou seja, a atenção cuidadosa se estende ao cuidado com objetos, com o Mo Gun (ambiente de aprendizagem e refinamento de seu kung fu, convívio e provimento de vida kung fu), com limpeza e organização. Tudo sempre com atenção cuidadosa.

A Família Moy Fat Lei vem passando por grandes mudanças, não só a nível estrutural, de espaço físico, mas uma mudança de mentalidade. Ela está crescendo em idade, amadurecendo e se transformando.

Está se preparando para ir para a casa nova, contando com a Família na organização, zelo e atenção cuidadosa desde o planejamento da mudança, cronograma, manutenção da sala atual para entrega até efetivar a mudança.

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Membros da família se organizaram, se revezaram e estão fazendo acontecer, nesses que também são momentos de vida kung fu. Onde podemos trocar experiências e aprender uns om os outros coisas da vida. Todos somando.

Além desses momentos de vida Kung Fu, particularmente percebi como se intensifica o que se chama de relação Si Fu – To Dai (a relação entre mestre e aluno), nesses momentos e dentro desse contexto de mudanças pelo qual estamos passando.

Uma das tantas coisas que me marcaram dentre conversas que tive com meu Si Fu, foi quando ele citou uma expressão japonesa:

Aikawarazu desu yo (Sem novidades)

E me explicou que lá quando perguntados como estão passando simplesmente respondem ‘Sem novidades’. Creio que para o ocidental soe um tanto frio. Mas entendi pelo viés da atenção cuidadosa a lógica seguida por eles ao responderem dessa forma. Pois se você responde que não está bem e então diz o porque, a outra pessoa pode sentir-se constrangida em continuar  falando sabendo que não está bem.  Ao passo que se responde que está tudo ótimo, animado, a pessoa pode sentir-se constrangida em continuar, principalmente se com ela não estiver tudo bem.

A questão não é como é melhor responder como se está na verdade.Se na cultura deles ou na nossa. O que me faz lembrar de alguma vez ter ouvido de meu Si Tai Gung (Grão mestre Léo Imamura) que não se trata de preferirmos outra cultura que não nossa, mas de nos apoiarmos na outra cultura para nos ajudar a enxergar melhor a nossa. Inclusive os pontos fracos.

Mas é certo que construir um pensamento e ações pautadas no princípio da atenção cuidadosa só pode ser benéfico, para qualquer cultura, em qualquer sociedade.

E passar por essas mudanças em família só reforça esse pensamento.

 

 

 

 

A Ancestralidade no Ving Tsun

SiFuentradaFamiliaO Ving Tsun tem como tradição preservar sua memória ancestral. No Sam Toi (mesa ancestral do Mo Gun) tem elementos fundamentais que configuram essa tradição, como o incensário, velas vermelhas, frutas e flores e a placa de ancestrais (que contem a inscrição com o nome de ancestrais dessa história).

 

 

O que significa Mo Gun?

“Mo Gun” eh o termo em cantones expresso por esses dois ideogramas:
武(Mo) e 館(Gun ou Kwoon)
武(Mo) , quer dizer “marcial” ou algo “militar” , por que nao exagerando, “guerra”?
館(Gun) siginifica “predio” ou “construcao”…

“Predio de Guerra” , “Predio Marcial”!

(fonte:http://www.insidevingtsun.com/2010/03/especial-mo-gun-o-local-de-treino-mo.html)

 

Essa tradição é muito importante para a perpetuação do Ving Tsun. E para que sempre sejam lembrados como peças fundamentais para a preservação do sistema.

Por isso a importância da relação Si Fu To Dai, da Família Kung Fu, dos momentos de vida Kung Fu, para reforçar e levar adiante esse legado.

31444688_618693755147519_4312438995326861312_nRecentemente, mais precisamente sexta-feira, dia 27 de abril de 2018, dia em que começamos eu e Si Fu, a embalar, encaixotar algumas coisas para a mudança, recebemos, eu e João, um presente de Si Fu. Ele simplesmente deu a João a placa que representa Ip Man na genealogia, e para mim a de Yim Ving Tsun.

Foi realmente muito especial, até porque Si Fu consegue fazer sempre uma ligação entre passado, presente e futuro, que acaba por fazer do momento ainda mais especial.

Ao me entregar a placa daquela a quem atribuímos a fundação de nossa arte marcial, Si Fu lembrou como ela foi uma mulher a frente de seu tempo, e que teve que enfrentar muitas dificuldades por ser mulher num contexto de uma China patriarcal. Ao passo que ao entregar a João a placa de Ip Man, contou de como ele começou tão novo, praticamente com sua idade, e fez questão de mencionar um momento histórico vivido por Ip Man, no qual tão novo, uma criança ainda, conseguiu arrecadar a quantia que precisava para arcar com custos do Kung Fu. E explicou muitas coisas sobre Ip Man para João.

João ficou super surpreso e feliz por receber esse presente de nosso Si Fu. E eu realmente fiquei muito emocionada.

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Uma vez meu Si Gung (Mestre Sênior Júlio Camacho) disse a meu Si Fu:

Quando pisar aqui, pise com cuidado! Você está pisando no meu sonho.

 

Parece que esse é um sonho que se sonha junto.

Isso me lembrou uma frase, mas que, confesso, não lembro o autor:

“Um sonho sonhado sozinho é um sonho. Um sonho sonhado junto é realidade”

 

Minha relação Si Fu To Dai só reforça esse sonho sonhado junto, só reforça uma construção baseada em respeito, admiração, gratidão. E porque não dizer que a relação Si Fu Si Gung que é baseada em tudo isso e mais a carga de admiração e respeito passada a mim por Si Fu, pois é nítida essa admiração e esse respeito de meu Si Fu por meu Si Gung.
Em minha casa tenho muitas referências artísticas, principalmente de mulheres que me marcam e me inspiram, como Frida Kahlo, Simone de Beauvoir, Tarsila do Amaral, por exemplo. Agora terei um local separado para uma referência única de inspiração feminina dentro do Ving Tsun, Yin Ving Tsun.

Ving Tsun e a memória

Uma vez disse a Si Fu que estava pensando em deixar um caderninho por perto para anotar tudo que acho interessante, curioso, pertinente. Ainda mais com um blog. Durante todo momento que estou com Si Fu é quase impossível ter algum dia sem que se tenha algo que me instigue a curiosidade, ou algo inspirador, motivador. Mas no momento que lhe disse isso rindo ele me respondeu de pronto que é uma ótima oportunidade de trabalhar a memória.

Ele foi certeiro, e não falei mais nada. Si Fu tem uma memória e tanto, e realmente é algo que muito admiro. Ele se recorda de momentos com riqueza de detalhes.

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Casa dos Discípulos – Clã Moy Yat Sang

Para se ter uma ideia, quando fui a São Paulo para o Ano Novo Chinês do Grande Clã Moy Yat Sang, como Si Fu não iria, eu iria então representando a Família Moy Fat Lei, ele dentre tantas orientações que me deu, me descreveu em detalhes a Casa dos Discípulos, desde a entrada, corredores, quadros, cômodos e significados.

 

Não sei se todos no Mo Lan (Círculo Marcial) são agraciados com uma boa memória, mas Si Fu certamente é, e principalmente, como sua To Dai, reconheço em mim algo a ser trabalhado.

É verdade também, que quanto mais o tempo passa para mim percebo, como de fato, já ouvia falar, que as crianças tem uma ótima memória. Vejo principalmente isso no João, e noto muito isso no Kung Fu, visto que sempre achei que ele memorizava as sequencias muito rapidamente. E percebo essa minha ‘desvantagem’ em minhas práticas, pois é quase desafiador para mim fazer o Siu Nim Tao. Tento entender que pode haver um componente de ansiedade, auto cobrança talvez, mas de fato posso dizer que Fazer o Siu Nim Tao me ajuda também, na memória.

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Entrada de João à Família Moy Fat Lei, juntamente com Talles, Beliago e Juliana. Dia em que Si Gung fez a observação mencionada

Mas não é só isso. Isso vem me intrigando, e comecei a perceber que não é só a falta de memória em si. Está tudo conectado, mais uma vez percebo como tudo se conecta. Assim como quando Si Gung me disse (ou como entendi) que reafirmar que sou tímida é uma autoproteção e que por tanto fica mais fácil me colocar nessa posição, logo tenho que tirar os rótulos que atribuo a mim mesma. Percebo que fazer Siu Nim Tao é também trabalhar a memória, mas também a segurança em si, o foco, a determinação, o auto controle, respeitar seu tempo e talvez mais um monte de outras coisas que ainda virei a descobrir, sobre o Siu Nim Tao e sobre mim mesma.

Bom, diante disso tudo, me recordo da última vez em que estive no Mo Gun, Si Fu ao passar o Siu Nim Do aos novos integrantes Talles e Beliago dia 19, em que Talles o perguntou sobre que intensidade deveria se aplicar a cada movimento, se mais suave ou mais firme, e antes de responder Si Fu pediu a visão de Si Je Geovana, de Si Hing Adilson e a minha. E então mostrou para ele que cada um de nós tem uma visão subjetiva sobre isso, e que o que cada um entende disso não foi passado por alguém mas foi o entendimento que cada um teve, tendo em vista que o Ving Tsun não é ensinado, mas é aprendido. Mas o que me marcou foi a frase final dele, quando disse: Por isso tudo o melhor que tenho a te dizer nesse momento é nada.

Sinceramente, achei essa frase fantástica, mas por todo contexto, claro que essa frase em si não significa nada, mas Si Fu ter feito toda essa construção, esse enredo, para finalizar com essa frase, foi quase como um Koan para mim.

O koan é um pequeno enigma Zen, à partida contraditória ou paradoxal, de solução aparentemente irresolúvel numa análise lógica.
O objectivo de um koan é apreender a nossa verdade interior e para cada pessoa a solução do koan é única, pois ela deriva da intuição e do estado de consciência com que o encaramos.

É necessário envolvimento e concentração, conseguir aliar o coração à mente e silenciosamente encontrar a resposta.

fonte: http://www.buddhachannel.tv/portail/spip.php?article13514

 

Primeiro Dia Siu Nim Tao
Quando Si Fu me deu acesso ao Siu Nim Tao

Por fim, falando ainda sobre memória, e como o Siu Nim Tao pode trazer benefícios, também nesse sentido, me recordo de recentemente Si Fu ter comentado que Si Tai Gung já fez o Siu Nim Tao por cerca de nove horas e Si Gung quatro. E dessa mesma última vez no Mo Gun Si Fu me pediu que fizesse o Siu Nim Do, e eu simplesmente por estar no Siu Nim Tao, não me recordei de todo Siu Nim Do, e isso me fez refletir também. Me cobrei sim, mas não demasiadamente. O que me intriga agora é pensar que a memória não se compromete por ela mesma, e lembrei de quando Si Fu me dizia para relaxar.

 

Acredito que quando não nos esvaziamos, quando levamos as tensões, corrompemos nossa memória, corrompendo assim nosso Kung Fu.

 

Isso me fez recordar de um vídeo de Si Tai Gung Léo Imamura – O Sistema Ving Tsun e o Método, onde ele diz:

Quanto mais método eu tenho mais Ip Sam eu tenho. Todo mundo está familiarizado com a ideia de Ip Sam, ou seja, aquelas folhas que vão encobrir a consciência da pessoa pra que ela possa manifestar o seu próprio Kung Fu.

 

logo, pude entender que qualquer coisa que venha a encobrir nossa consciência, sejam tensões, desejos, método (em excesso), atrapalha a memória, a fluidez e a manifestação, como Si Tai Gung diz, do próprio Kung Fu.

 

 

 

 

Cerimônia de entrada dos novos membros na Família Moy Fat Lei

Depois de alguma tensão já ter passado, foi minha primeira vez como Gaai Siu Yan (aquele ou aquela que está indicando um novo membro a seu mestre e ‘cuida’ de quem está apresentando à família), logo de dois, de Juliana Trugano e João Gutemberg (meu filho), Si Gung (Si Fu de meu Si Fu – Avô no círculo marcial – Mestre Sênior Júlio Camacho) disse a João:

Pode fazer bagunça João, é só saber a hora de fazer, mas eu tenho uma novidade pra você, você pode chamar alguns amiguinhos seus para fazerem uma semana de aula grátis, só tem uma coisa, quando um amiguinho seu entrar pra família também você será o Si Hing dele, já parou pra pensar? então faz bastante bagunça agora porque quando você for Si Hing, vai parar e pensar se deve fazer bagunça porque o amiguinho vai estar olhando e aprendendo com você.

Não sei qual a dimensão que João deu a isso que Si Gung lhe falou, mas eu passei por vários momentos antes, durante e após a cerimônia, e depois de ouvir o que ele disse tudo fez mais sentido. Na verdade percebi como tudo está conectado.

Cerimonia

Bom, vou explicar. Não tem tanto tempo assim que, com muito orgulho, entrei para a Família Moy Fat Lei. Estive envolvida no processo de entrada dos novos membros, desde o (pré) convite feito por Si Fu (Meu Mestre Thiago Pereira), até o jantar do convite oficial, até o dia propriamente da Cerimônia, tendo em vista que fui Gaai Siu Yan de Juliana Trugano e João Gutemberg. E desde quando soube que seria Gaai Siu Yan, senti algo diferente. Alguém estava confiando em mim e de certa forma me tendo como uma referência dentro de nossa família. Recebi como uma grande responsabilidade e pude entender tudo o que meu Si Fu e meus irmãos Kung Fu desde o início vem me passando.

Agora eu seria a Si Je (irmã mais velha). Até então eu estava ainda na posição da novata, eu tinha meus Si Hing  e minhas Si Je. Mas é verdade, quando entra mais alguém e você passa a ser a Si Je, algo muda, você ‘vira a chave’ pela segunda vez no círculo marcial (digo isso porque ‘virei a chave’ a primeira vez, ao entrar para a família), não, na verdade, no meu caso, virei pela quarta. Meu olhar dentro da família, dentro do círculo marcial, começou a mudar ao entrar para a família, a segunda vez, foi quando soube que seria Gaai Siu Yan de alguém, depois disso um outro episódio me fez aumentar o sentimento de pertencimento e de responsabilidade dentro da família, foi no jantar do convite de Si Fu aos futuros membros, ele me entregou a chave do Mo Gun (Local de prática e convívio da Família, e onde está o Jiu Paai – placa que é um símbolo de legitimidade para a abertura de uma Família Kung Fu). Depois disso tudo, ser chamada de Si Je, e ao final da cerimônia, para marcar ainda mais, receber o convite de meu Si Fu, para me tornar membro vitalício da Família Moy Fat Lei, em presença de Si Gung, representante do Clã Moy Jo Lei Ou, é muito especial.

Diante disso tudo, fiz as conexões, no momento em que Si Gung falou com João, e quando Si Fu fez o convite, terminei de conectar, percebi que está tudo ligado. Só precisamos ficar atentos e perceber as conexões.

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Ao final, ao voltarmos juntos, eu, João, Juliana, Si Suk (Tio mais velho) Rodrigo e Si Hing (Irmão mais velho) Filipe, eis que Juliana pergunta: tá, mas e agora o que muda? Si Suk passou a palavra a mim e a Si Hing, cada um de nós passou um pouquinho do que mudou pra si, mas acredito que apesar de muita coisa em comum, é muito subjetivo.

O que muda pra você entrar pra família? se tornar membro vitalício? receber a chave do Mo Gun? O que muda se tornar pai ou mãe? o que muda em você a cada mudança?

Acredito ser uma boa pergunta a nos fazermos.

E finalizo com uma frase que meu Si Fu falou ao final do convite, que já havia falado antes: Espero que não seja por acaso.

E Sigamos Juntos!

 

 

 

 

Ano Novo Chinês

anonovochines2018Esse ano pela primeira vez tive a oportunidade, tanto de participar da comemoração do Ano Novo Chinês do Cão de Terra do Clã Moy Yat Sang, bem como pela primeira vez conhecer a Casa dos Discípulos, meu Si Tai Gung Léo Imamura e minha Si Tai Po Vanise Imamura e tantas outras pessoas que eu não conhecia do do Clã Moy Yat Sang.

 

No início eu via meu Si Tai Gung não como um bisavô, como ele é para mim dentro da Família Kung Fu, mas eu era literalmente uma fã, já havia assistido a praticamente todos os vídeos com ele no YouTube, palestras, entrevistas. Mas a cada dia tenho sentido a relação familiar como tal, e me sentido cada vez mais parte integrante não só da minha família, a Família Moy Fat Lei, como parte integrante do Clã Moy Jo Lei Ou e do Grande Clã Moy Yat Sang. E é um salto gigantesco pois junto com esse sentimento de integração vem o sentido de responsabilidade que está por trás de qualquer família (ou pelo menos, deveria).

Antes que eu fosse para São Paulo, meu Si Fu conversou comigo, tendo em vista que ele não estaria presente, me orientando sobre a responsabilidade de estar representando a Família. Se preocupou em se certificar se eu estava ciente, ou se eu estava indo apenas como convidada, e no caso de ir representando a família se preocupou em me ambientar para que eu não ficasse como um membro perdido. Achei a postura de meu Si Fu não só de um cuidado comigo, mas com um cuidado muito grande com a Família e de uma sabedoria ímpar. Mas ao mesmo tempo ele foi tão cuidadoso em me passar tudo em riqueza de detalhes que por outro lado acabei indo um pouco tensa sentindo o peso da responsabilidade.Algumas coisas deram certo, outras nem tanto, mas faz parte.

Logo chegando lá deu tempo de tomar café, e me trocar e já seguir para a casa dos discípulos, era realmente tudo como meu Si Fu havia dito, apesar que devo confessar que já não me lembrava mais de tantos detalhes. Si Fu é imbatível no quesito ‘boa memória’. Ele me falou desde a entrada, os corredores, quadros da direita, quadros da esquerda, salão de memórias, cozinha. Quase me desenhou a planta da Casa dos Discípulos.

casadosdiscipulosBrincadeiras a parte, entrei encantada de ver tanta história de Si Tai Gung com Patriarca Moy Yat retratada em várias partes da casa.

Logo no início Si Tai Gung fez a renovação do San Toi, foi um momento muito especial, em que ele mesmo tirou item por item e entregou a todos os discípulos presentes, limpou, trocou a toalha que cobria o San Toi por outra nova, depois foi devolvendo item por item. Fez algumas considerações sobre alguns ítens, fazendo ligações históricas de alguns com momentos vividos com Patriarca Moy Yat, fez sua reverência em em seguida todos nós fizemos. Nesse momento fiquei mais tensa, pois meu salto havia quebrado, e tive que ir fazer minha reverência com o salto quebrado o que me incomodou.

Depois disso houve uma reunião para membros mais experientes, na qual não participei. Então voltei para o hotel e aguardei até a hora do almoço. Consegui providenciar um salto novo (imagina como eu iria para a cerimônia e jantar a noite sem um salto novo) no caminho para o almoço. Foi um episódio engraçado, falei para o motorista do Uber que precisava parar numa loja de calçados no caminho, e quando eu achava que não encontraríamos ele quase passou por uma mas conseguiu frear e estacionar e então consegui solucionar o problema e seguir para o almoço.

Depois do almoço voltamos para a Casa dos Discípulos para o relato de Grão-Mestre Leo Imamura sobre a Reunião do Comitê Preparatório de Graduação de Ving Tsun (Wing Chun) da International Wushu Federation na cidade de Feng Shun, Província de Guangdong, China. E então teve um recesso para a preparação do jantar.

A Cerimônia foi muito bonita, tudo preparado com muita atenção e cuidado. As apresentações sobre o Ving Tsung com vídeo de Si Tai Gung foram muito bem produzidas e a leitura e apresentação da interpretação do horóscopo chinês foram bem animadas e descontraídas. E ao final da cerimônia teve a foto oficial.

No dia seguinte, Si Tai Gung apresentou um seminário. Fiquei responsável por filmar, conforme combinado com Si Fu, e com a autorização de Si Tai Gung, e ao final perdi os vídeos tentando salvá-los na nuvem para liberar espaço no celular. Isso foi algo que saiu errado como mencionei acima das coisas que não saíram bem. Sorte que outras pessoas filmaram, mas pena que deu errado minha filmagem, enfim faz parte, mas serviu para avaliar o que poderia ter sido mais bem planejado e organizado melhor.

Após houve uma prática, que não achei que fosse participar, mas Si Tai Gung disse: “você vai praticar sim, vamos brincar um pouco…”

Foi definitivamente uma experiência extraordinária, todas as práticas, todas as experiências que tive com diversas pessoas, poder ter esse primeiro contato de prática com Si Tai Gung. Definitivamente foi uma experiência única, foi realmente muito enriquecedor em diversos aspectos. Tanto no aspeto da prática em si, de trabalhar a questão da percepção e da conexão com o outro, atenção ao momento presente, aos detalhes, como do aspeto mais filosófico, subjetivo e reflexivo que a prática e que toda interação trouxeram.

anonovochinesE por fim, penso em como essa questão da conexão está, também, totalmente ligada a lógica da atenção cuidadosa. Me lembro que quando confirmei minha ida, logo em seguida começaram a organizar a comemoração do ano novo chinês no núcleo Barra. E meu Si Fu ficou de dar uma palestra sobre o conceito de Ano Novo Chinês e a entrada e saída de cada animal no dia, e eu gostaria muito de estar presente com ele, mas estaria em São Paulo. Dessa forma participei do que pude na organização e fui pra São Paulo, mas conectada. Acredito que a atenção cuidadosa sempre comece dentro de nossa família, e é isso que tento passar para meu filho. Da nossa família, para o Clã, Grande Clã, para a vida.

E que assim sigamos juntos.