Esse ano pela primeira vez tive a oportunidade, tanto de participar da comemoração do Ano Novo Chinês do Cão de Terra do Clã Moy Yat Sang, bem como pela primeira vez conhecer a Casa dos Discípulos, meu Si Tai Gung Léo Imamura e minha Si Tai Po Vanise Imamura e tantas outras pessoas que eu não conhecia do do Clã Moy Yat Sang.
No início eu via meu Si Tai Gung não como um bisavô, como ele é para mim dentro da Família Kung Fu, mas eu era literalmente uma fã, já havia assistido a praticamente todos os vídeos com ele no YouTube, palestras, entrevistas. Mas a cada dia tenho sentido a relação familiar como tal, e me sentido cada vez mais parte integrante não só da minha família, a Família Moy Fat Lei, como parte integrante do Clã Moy Jo Lei Ou e do Grande Clã Moy Yat Sang. E é um salto gigantesco pois junto com esse sentimento de integração vem o sentido de responsabilidade que está por trás de qualquer família (ou pelo menos, deveria).
Antes que eu fosse para São Paulo, meu Si Fu conversou comigo, tendo em vista que ele não estaria presente, me orientando sobre a responsabilidade de estar representando a Família. Se preocupou em se certificar se eu estava ciente, ou se eu estava indo apenas como convidada, e no caso de ir representando a família se preocupou em me ambientar para que eu não ficasse como um membro perdido. Achei a postura de meu Si Fu não só de um cuidado comigo, mas com um cuidado muito grande com a Família e de uma sabedoria ímpar. Mas ao mesmo tempo ele foi tão cuidadoso em me passar tudo em riqueza de detalhes que por outro lado acabei indo um pouco tensa sentindo o peso da responsabilidade.Algumas coisas deram certo, outras nem tanto, mas faz parte.
Logo chegando lá deu tempo de tomar café, e me trocar e já seguir para a casa dos discípulos, era realmente tudo como meu Si Fu havia dito, apesar que devo confessar que já não me lembrava mais de tantos detalhes. Si Fu é imbatível no quesito ‘boa memória’. Ele me falou desde a entrada, os corredores, quadros da direita, quadros da esquerda, salão de memórias, cozinha. Quase me desenhou a planta da Casa dos Discípulos.
Brincadeiras a parte, entrei encantada de ver tanta história de Si Tai Gung com Patriarca Moy Yat retratada em várias partes da casa.
Logo no início Si Tai Gung fez a renovação do San Toi, foi um momento muito especial, em que ele mesmo tirou item por item e entregou a todos os discípulos presentes, limpou, trocou a toalha que cobria o San Toi por outra nova, depois foi devolvendo item por item. Fez algumas considerações sobre alguns ítens, fazendo ligações históricas de alguns com momentos vividos com Patriarca Moy Yat, fez sua reverência em em seguida todos nós fizemos. Nesse momento fiquei mais tensa, pois meu salto havia quebrado, e tive que ir fazer minha reverência com o salto quebrado o que me incomodou.
Depois disso houve uma reunião para membros mais experientes, na qual não participei. Então voltei para o hotel e aguardei até a hora do almoço. Consegui providenciar um salto novo (imagina como eu iria para a cerimônia e jantar a noite sem um salto novo) no caminho para o almoço. Foi um episódio engraçado, falei para o motorista do Uber que precisava parar numa loja de calçados no caminho, e quando eu achava que não encontraríamos ele quase passou por uma mas conseguiu frear e estacionar e então consegui solucionar o problema e seguir para o almoço.
Depois do almoço voltamos para a Casa dos Discípulos para o relato de Grão-Mestre Leo Imamura sobre a Reunião do Comitê Preparatório de Graduação de Ving Tsun (Wing Chun) da International Wushu Federation na cidade de Feng Shun, Província de Guangdong, China. E então teve um recesso para a preparação do jantar.
A Cerimônia foi muito bonita, tudo preparado com muita atenção e cuidado. As apresentações sobre o Ving Tsung com vídeo de Si Tai Gung foram muito bem produzidas e a leitura e apresentação da interpretação do horóscopo chinês foram bem animadas e descontraídas. E ao final da cerimônia teve a foto oficial.
No dia seguinte, Si Tai Gung apresentou um seminário. Fiquei responsável por filmar, conforme combinado com Si Fu, e com a autorização de Si Tai Gung, e ao final perdi os vídeos tentando salvá-los na nuvem para liberar espaço no celular. Isso foi algo que saiu errado como mencionei acima das coisas que não saíram bem. Sorte que outras pessoas filmaram, mas pena que deu errado minha filmagem, enfim faz parte, mas serviu para avaliar o que poderia ter sido mais bem planejado e organizado melhor.
Após houve uma prática, que não achei que fosse participar, mas Si Tai Gung disse: “você vai praticar sim, vamos brincar um pouco…”
Foi definitivamente uma experiência extraordinária, todas as práticas, todas as experiências que tive com diversas pessoas, poder ter esse primeiro contato de prática com Si Tai Gung. Definitivamente foi uma experiência única, foi realmente muito enriquecedor em diversos aspectos. Tanto no aspeto da prática em si, de trabalhar a questão da percepção e da conexão com o outro, atenção ao momento presente, aos detalhes, como do aspeto mais filosófico, subjetivo e reflexivo que a prática e que toda interação trouxeram.
E por fim, penso em como essa questão da conexão está, também, totalmente ligada a lógica da atenção cuidadosa. Me lembro que quando confirmei minha ida, logo em seguida começaram a organizar a comemoração do ano novo chinês no núcleo Barra. E meu Si Fu ficou de dar uma palestra sobre o conceito de Ano Novo Chinês e a entrada e saída de cada animal no dia, e eu gostaria muito de estar presente com ele, mas estaria em São Paulo. Dessa forma participei do que pude na organização e fui pra São Paulo, mas conectada. Acredito que a atenção cuidadosa sempre comece dentro de nossa família, e é isso que tento passar para meu filho. Da nossa família, para o Clã, Grande Clã, para a vida.
E que assim sigamos juntos.